quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Eclesiologia de comunhão: A relação ministério-comunidade



Atualmente parece predominante uma mentalidade que busca enaltecer os ministérios não ordenados. Tal fato é bastante positivo e justo porque tira dos leigos uma posição demasiadamente passiva. Aqui lembramos que verdadeiramente o clericalismo foi muito prejudicial para a comunidade dos fieis leigos, pois não davam a eles um verdadeiro protagonismo tanto na participação da liturgia como nos diversos trabalhos da comunidade.

Quando contemplamos Jesus nas diversas situações em que se encontra com as pessoas necessitadas e marginalizadas do seu tempo percebemos que o seu ministério de cura ou de pregação não impedia o protagonismo das pessoas, muito pelo contrario ele enaltecia: “Tua fé te salvou” (Lc 7, 50; 8, 48.50; 18, 42), esta frase de Cristo a encontramos muitas vezes nos evangelhos. Através desta expressão Cristo quer mostrar não que a fé é algo subjetivo, mas que ela se vive de modo ativo.

Jesus não diz: eu te curei ou eu te salvei (ainda que seja verdade tal fato), mas “tua fé te salvou” mostrando assim que a salvação que ele veio nos dar não tira nossa responsabilidade nem muito menos impede nosso protagonismo. A fé é um modo de protagonizar nosso seguimento de Cristo, por isso esta deve ser vivida de modo ativo.

Verdadeiramente Deus, e somente Ele, pode nos conceder a salvação, mas a busca pela salvação se realiza de modo ativo e operante. De modo que para alcançar esta salvação concedida por Cristo, o cristão deve ter uma atitude ativa e protagonista.

O ministério de reconciliação que Cristo realiza em nosso favor não impede o nosso protagonismo, antes exige de nós uma atitude ativa. A encarnação mesmo sendo obra do Espírito Santo, não tirou o protagonismo de Maria. Observamos que o anjo se afasta somente quando ouve resposta ativa e operante de mãe do Senhor: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).

O ministério sacerdotal na Igreja durante muito tempo, ao contrario de como Jesus realizava seu ministério, deixava os fieis numa atitude totalmente passiva e subjugada. Por isso é justo e necessário a valorização dos ministérios leigos. Os fieis também são chamados a atuarem de modo ativo na missão da Igreja, os ministérios não-ordenados são um grande serviço a todo o povo de Deus (leigos e hierarquia não esqueçamos, como expressa a LG 11, fazem parte do povo de Deus). 
 
Contudo, apesar de toda essa valorização dos ministérios na Igreja, temos que evitar outra mentalidade, muito prejudicial, que é a de relacionar os ministérios não ordenados unicamente a dignidade dos leigos. Há quem diga que os ministérios não-ordenados são importantes unicamente porque valorizam o papel do leigo. Os ministérios não são para afirmar ou mostrar a dignidade dos leigos. A importância dos ministérios é que eles estão a serviço da Igreja. A finalidade dos ministérios não é afirmar a dignidade dos leigos, mesmo que esta afirmação seja justa, os ministérios são para o bem comum (1Cor 12, 7; 14, 3-12), ou seja para edificação de toda a Igreja. Os diversos ministérios não têm como finalidade a afirmação da dignidade dos leigos, eles são um serviço (diaconia) cuja finalidade é a edificação do Corpo de Cristo (Ef 4, 12).

“Deus suscita ministérios na comunidade e para comunidade”[1]. Assim como os ministérios ordenados não podem estar a serviços daqueles o exercem, assim também os ministérios não-ordenados não podem estar a serviço daqueles que os exercem. É necessário colocar os ministérios numa estreita relação com a comunidade (toda a comunidade), esta é, pois uma tarefa importante da teologia: “Historicamente os ministérios aparecem ligado indissoluvelmente a comunidade” [2].

Igreja toda é ministerial, por isso temos que ver o ministérios não em relação a uma categoria de fiéis da Igreja, sejam eles presbíteros ou leigos, se no passado os ministérios estavam relacionados a pessoa do padre, hoje temos o risco de falar dos ministérios não-ordenados, somente em relação a dignidade dos leigos, como se os ministérios não-ordenados existissem apenas para salvaguardar a dignidade dos fieis. Como diz são Paulo os ministérios são para o bem comum. Eles existem para a edificação de toda a Igreja (Ef 4, 12).   

Assim expressa Oñatibia sobre este fato de relacionar o ministério somente a pessoa: “a partir de uma concepção da Igreja como uma instituição e sociedade, os ministérios eram definidos durante todo este período em termos de poderes sacramentais inerentes a pessoa, sem uma conexão aparente com a comunidade[3]

A relação ministério-comunidade é tão estreita que até mesmo sua redescoberta na teologia contemporânea está ligada a um fator marcadamente eclesial. É a partir da renovada eclesiologia de comunhão que se torna possível situar os ministérios dentro do contexto de serviço à Igreja. A visão de ministério como um serviço à comunidade só foi possível graças à compreensão, lançada pelo Concilio Vaticano II (LG 13), da estrutura social da Igreja como comunhão.

Os ministérios, sejam eles ordenados ou não, devem ser lidos a partir da categoria de serviço, é desse modo que Cristo interpreta seu ministério: Ele veio para servir e não para ser servido (Mc 9, 35;  Mt 23, 11; Lc 22, 26s). Os ministérios são um serviço, não uma condecoração ou símbolo para afirmar a dignidade de quem quer que seja.


Padre Miguel Alon



[1]  Oñatibia, «El sacramento Del ordem», in: Borobio (diretor), La Celebración en la Iglesia: Sacramentos, Ediciones Sigueme, Salamanca, 5ª Ed., 2008 pg. 636.
[2] Ibid, pg. 637.
[3] Ibid, pg. 617.

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