Atualmente parece predominante uma mentalidade que
busca enaltecer os ministérios não ordenados. Tal fato é bastante positivo e
justo porque tira dos leigos uma posição demasiadamente passiva. Aqui lembramos
que verdadeiramente o clericalismo foi muito prejudicial para a comunidade dos
fieis leigos, pois não davam a eles um verdadeiro protagonismo tanto na
participação da liturgia como nos diversos trabalhos da comunidade.
Quando contemplamos Jesus nas diversas situações em
que se encontra com as pessoas necessitadas e marginalizadas do seu tempo
percebemos que o seu ministério de cura ou de pregação não impedia o
protagonismo das pessoas, muito pelo contrario ele enaltecia: “Tua fé te salvou” (Lc 7, 50; 8, 48.50;
18, 42), esta frase de Cristo a encontramos muitas vezes nos evangelhos.
Através desta expressão Cristo quer mostrar não que a fé é algo subjetivo, mas
que ela se vive de modo ativo.
Jesus não diz: eu te curei ou eu te salvei (ainda
que seja verdade tal fato), mas “tua fé
te salvou” mostrando assim que a salvação que ele veio nos dar não tira
nossa responsabilidade nem muito menos impede nosso protagonismo. A fé é um
modo de protagonizar nosso seguimento de Cristo, por isso esta deve ser vivida
de modo ativo.
Verdadeiramente Deus, e somente Ele, pode nos
conceder a salvação, mas a busca pela salvação se realiza de modo ativo e
operante. De modo que para alcançar esta salvação concedida por Cristo, o
cristão deve ter uma atitude ativa e protagonista.
O ministério de reconciliação que Cristo realiza em
nosso favor não impede o nosso protagonismo, antes exige de nós uma atitude
ativa. A encarnação mesmo sendo obra do Espírito Santo, não tirou o
protagonismo de Maria. Observamos que o anjo se afasta somente quando ouve
resposta ativa e operante de mãe do Senhor: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).
O ministério sacerdotal na Igreja durante muito
tempo, ao contrario de como Jesus realizava seu ministério, deixava os fieis
numa atitude totalmente passiva e subjugada. Por isso é justo e necessário a
valorização dos ministérios leigos. Os fieis também são chamados a atuarem de
modo ativo na missão da Igreja, os ministérios não-ordenados são um grande
serviço a todo o povo de Deus (leigos e hierarquia não esqueçamos, como
expressa a LG 11, fazem parte do povo de Deus).
Contudo, apesar de toda essa valorização dos
ministérios na Igreja, temos que evitar outra mentalidade, muito prejudicial,
que é a de relacionar os ministérios não ordenados unicamente a dignidade dos
leigos. Há quem diga que os ministérios não-ordenados são importantes
unicamente porque valorizam o papel do leigo. Os ministérios não são para
afirmar ou mostrar a dignidade dos leigos. A importância dos ministérios é que
eles estão a serviço da Igreja. A finalidade dos ministérios não é afirmar a
dignidade dos leigos, mesmo que esta afirmação seja justa, os ministérios são
para o bem comum (1Cor 12, 7; 14, 3-12), ou seja para edificação de toda a
Igreja. Os diversos ministérios não têm como finalidade a afirmação da
dignidade dos leigos, eles são um serviço (diaconia) cuja finalidade é a
edificação do Corpo de Cristo (Ef 4, 12).
“Deus suscita ministérios na comunidade e para
comunidade”[1].
Assim como os ministérios ordenados não podem estar a serviços daqueles o
exercem, assim também os ministérios não-ordenados não podem estar a serviço
daqueles que os exercem. É necessário colocar os ministérios numa estreita
relação com a comunidade (toda a comunidade), esta é, pois uma tarefa
importante da teologia: “Historicamente os ministérios aparecem ligado
indissoluvelmente a comunidade” [2].
Igreja toda é ministerial, por isso temos que ver o
ministérios não em relação a uma categoria de fiéis da Igreja, sejam eles
presbíteros ou leigos, se no passado os ministérios estavam relacionados a
pessoa do padre, hoje temos o risco de falar dos ministérios não-ordenados,
somente em relação a dignidade dos leigos, como se os ministérios não-ordenados
existissem apenas para salvaguardar a dignidade dos fieis. Como diz são Paulo
os ministérios são para o bem comum. Eles existem para a edificação de toda a
Igreja (Ef 4, 12).
Assim expressa Oñatibia sobre este fato de
relacionar o ministério somente a pessoa: “a
partir de uma concepção da Igreja como uma instituição e sociedade, os
ministérios eram definidos durante todo este período em termos de poderes
sacramentais inerentes a pessoa, sem uma conexão aparente com a comunidade”[3].
A relação ministério-comunidade é tão estreita que
até mesmo sua redescoberta na teologia contemporânea está ligada a um fator
marcadamente eclesial. É a partir da renovada eclesiologia de comunhão que se
torna possível situar os ministérios dentro do contexto de serviço à Igreja. A
visão de ministério como um serviço à comunidade só foi possível graças à
compreensão, lançada pelo Concilio Vaticano II (LG 13), da estrutura social da
Igreja como comunhão.
Os ministérios, sejam eles ordenados ou não, devem
ser lidos a partir da categoria de serviço, é desse modo que Cristo interpreta
seu ministério: Ele veio para servir e não para ser servido (Mc 9, 35; Mt 23, 11; Lc 22, 26s). Os ministérios são um
serviço, não uma condecoração ou símbolo para afirmar a dignidade de quem quer
que seja.
Padre Miguel Alon
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