sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O Amor e o Tempo




Quando falamos de amor e de tempo, nos deparamos com duas medidas: a de eternidade – por analogia - e a de finitude – por facticidade, respectivamente. Sim, por que o que será o amor senão manifestação da infinita bondade de Deus? O que será o amor senão esse ato supremo da vontade de Deus que permanece fiel a si mesmo? O que será o amor senão a decisão eterna e a medida inexaurível da ação de Deus, que se entrega a nós num movimento perene, absoluto, fazendo-nos capazes Dele mesmo? O amor é justamente expressão do ser e do agir de Deus!

E o tempo? Ah, que medida preciosa da graça de Deus que atua na criação e ordena todas as coisas, segundo o seu transcurso, elevando-as à plenitude da eternidade! Que revelação preciosa da ação de Deus, que é eterno, na finitude de suas obras! O tempo é verdadeiro lugar de encontro com o Senhor; constitui-se legítimo espaço de comunhão entre Deus e o homem à medida que, pelo dom inefável da revelação Divina e pela livre adesão humana, deixa de ser simples “passar” (“chronos”) e torna-se vislumbre do absoluto, eterno e imutável (“kayrós”).

Mas, e quando estas realidades do amor e do tempo parecem não se tocar, por causa de nossas decisões? E quando se se deixa de considerar a envergadura e importância totais de ambos e se passa a acreditar que se pode viver alheio de um ou de outro? Quando a postura que se adota é essa, instrumentaliza-se a um e a outro. Ambos são de importância absoluta para a correta integração do homem, enquanto ser inteiro, voltado à eternidade, ao infinito; ao mesmo tempo que inteiramente participante do mundo material. Se se prescinde de uma realidade ou de outra, seja do amor, seja do tempo, fragmenta-se o homem. É bem verdade ainda que, apesar do esforço por apresentar um e outro, não devem ser vistos como aspectos dissociados. São, na verdade, realidades que se enlaçam, o amor e o tempo.


Assim, quando falamos de amor e de tempo, falamos, inevitavelmente, da relação entre Deus e o homem; relação que se dá no mais íntimo do coração humano, relação que pode muito bem ser resumida pelo versículo 8 do Salmo 41, que nos diz: “Como um abismo atrai outro abismo ao fragor das cascatas, vossas ondas e vossas torrentes me cercam, me envolvem.” Esse é o sentimento que, pessoalmente tenho em relação a toda a minha história, principalmente quando olho para a realidade de meu chamado. Sinto-me assim: cercado, envolvido pelo “abismo” do Tudo de Deus que, num movimento de amor eterno e incondicional abraça o “abismo” de meu nada, e me proporciona esse encontro que transforma toda a minha forma de pensar, de ver a realidade; que transforma a minha vida em amor, dando-me a possibilidade de amar verdadeiramente! Esse encontro de abismos que se envolvem é algo concreto, vivido na temporalidade dos fatos e das relações; é algo que se concretiza na história, mas não se prende à ela; vai para além dela !

Penso que esse seja o ponto de partida para a boa vivência de nossos relacionamentos, a nível pessoal, social, etc. Perceber no transcurso do tempo, no andamento das relações, o amor que os integra e ultrapassa o amor que os torna plenos de sentido. Estão encerradas nesta atitude: a fé, como dom da revelação Divina e como livre assentimento da razão e da vontade humanas; a esperança, como aquela virtude por meio da qual sou lançado para além da história e abraço já nela o Eterno; e a caridade, como vínculo do Amor e do amado, e como forma de vivência dos filhos e filhas de Deus entre eles mesmos, a partir do amor de Deus. Assim, a imanência de Deus à história é convite para a mudança de nossas atitudes. É preciso viver no “agora”, no “hoje”, o valor de nossa fé, de nossa esperança e caridade. A experiência cristã manifesta-se aí, no testemunho de nossa fé por nossas obras. O testemunho é a concretização do amor de Deus que alcança o homem, tornando o coração humano cada vez mais semelhante ao Seu coração; amor que se manifesta nas condutas, na forma de agir dos amados.

Tudo tão surpreendente, tão superior a nós! Impossível olhar para o tempo e não perceber nele o fio condutor do amor de Deus, que tudo providencia. Impossível não perceber aquela trama perfeitamente delineada, feita do mais excelso material: trama do amor de Deus que se concretiza na história do homem e a abraça, e a envolve inteiramente, fazendo com que brote de seu coração o mais refinado dos cânticos: o de gratidão. Inevitável não rendermos graças a Deus por todos os seus benefícios, por Sua presença sempre tão viva e eficaz em nossas vidas, em nossas histórias.

Gratidão, Senhor, pelo tempo. Gratidão, Senhor, pelo amor. Gratidão, Senhor, pelo tempo de amar: o presente!


Seminarista Luiz Octávio

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